O sucesso de vendas do livro Cinquenta tons de Cinza escrito pela autora inglesa Erika Leonard James está chamando a atenção para um assunto que não é tão comum e aceito, as fantasias sexuais. O enredo do livro relata o relacionamento de Anastasia Steele, jovem e inocente, com Christian Grey, um bilionário com gostos sexuais diferentes, principalmente voltados ao sadismo e sadomasoquismo. A história gira em torno dos conflitos internos de Anastasia, que não se sente à vontade com algumas práticas sexuais propostas por seu parceiro Christian, mas está apaixonada demais para recusá-las.
Segundo o psicoterapeuta e terapeuta sexual Breno Rosostolato, o sucesso do livro pode ser explicado pelos tabus que ainda existem em volta das fantasias sexuais. "O apelo sexual do livro, que é diferente do que é encontrado atualmente nas livrarias e extremamente erótico, atrai e faz com que quem o leia possa reproduzir mentalmente cada imagem e detalhe da cena ali descrita. Isso excita o leitor, já que ele não está acostumado a ver, ler ou falar abertamente sobre aquilo".
O que são fantasias sexuais?
As fantasias sexuais podem ser descritas como formas diferentes de fazer sexo e encontrar estímulos para sentir prazer. O principal objetivo das fantasias é apimentar a relação do casal e liberar a criatividade dos dois, dando assim um fim à conhecida rotina na cama. As fantasias podem ser desde usar roupas diferentes e de personagens, até utilizar acessórios ou aplicar práticas sexuais diferenciadas como o sadomasoquismo, que é o sentir prazer ao submeter e ser submetido à dor durante o ato sexual.
Mas e se a fantasia sexual do parceiro te incomoda? Saber lidar com isso é muito importante. Antes de criticar, tenha em mente que, muitas vezes, para o parceiro, sugerir alguma prática sexual diferente pode ser apenas uma intenção de trazer mais prazer para o casal. O psiquiatra Daniel Vasques diz que a principal razão para a negação da fantasia sexual do parceiro é a falta de intimidade na relação e isso é preocupante dentro e fora da cama. "Normalmente o parceiro se nega, pois está ligado a alguns tabus e se sente ou tem medo de se sentir invadido ao permitir algumas práticas. Mas isso é um problema que não se restringe à cama. O casal que não tem intimidade para falar sobre suas fantasias e preferências sexuais tem um relacionamento praticamente fadado ao fracasso", completa.
As pessoas encararem o direito ao prazer como algo errado é uma resistência comum e arraigada à cultura e à forma como a sociedade e os pais criam os filhos, principalmente do sexo feminino Segundo Breno Rosostolato isso reflete em como a mulher encara as fantasias sexuais. "O homem sempre foi mais ligado ao sexo do que a mulher e eles normalmente fazem mais sexo durante a vida do que a mulher. Mas o homem, por outro lado, é bem mais reprimido, ou seja, reconhece sua excitação, mas não se permite vivenciar aquilo. Já a mulher é apenas inibida, ou seja, ela se conhece muito melhor do que o homem, sabe onde tem mais prazer mas por vergonha, constrangimento ou principalmente por achar que aquilo é errado, se inibe sexualmente", afirma o terapeuta sexual. Mas Breno afirma que isso está chegando ao fim. "Atualmente as mulheres estão sendo mais liberais com seus desejos. A sociedade está encarando o sexo de outra forma e hoje os pais conversam abertamente com os filhos sobre o assunto. Isso quer dizer que estão se formando pessoas mais abertas sexualmente, que lidam melhor com os sentimentos dentro e fora de quatro paredes".
A melhor forma de resolver os conflitos que possam vir a surgir com desejos sexuais do parceiro é dialogar. "Na verdade, o diálogo deve vir antes do conflito. É importante conversar antes de propor algo diferente do nada. Falar sobre sexo é primordial em qualquer relacionamento e conversar com o parceiro sobre onde você mais sente prazer pode ser excitante e a deixa para pôr em pauta as fantasias sexuais e desejos que você tem vontade de realizar", aconselha Breno Rosostolato. O psiquiatra Daniel Vasques também dá uma dica. "Quando o parceiro vier conversar sobre os desejos com você, não saia correndo ou brigue logo de cara, mesmo quando a fantasia te incomodar. Tente encarar e pensar sobre o que ele está propondo, se desprenda de preconceitos. E tenha sempre em mente que ele ter vindo falar sobre isso quer dizer que ele preza a relação e confia em você e, portanto, vai aceitar suas restrições."
Se permitir sentir prazer é o primeiro passo para encarar as fantasias sexuais do parceiro da melhor forma e também é um jeito de se descobrir e se permitir fantasiar também. Sempre dialogar sobre sexo pode ser uma experiência diferente na vida do casal, que vai conhecer melhor um ao outro. Breno Rosostolato finaliza com uma ressalva. "Nunca deixe que o relacionamento entre em crise por conta da vida sexual do casal. Compreender que a sexualidade é apenas uma parte do relacionamento afetivo e deve ser plenamente vivenciada ajuda muito a resolver conflitos".
